a historia da arte, por andre toral

Outro dia fui ao vernissage de um amigo distante, sem muitas pretensões artísticas, de minha parte, e mais com intenções amigáveis, afim de parabenizá-lo pela nova série de trabalhos. Eis que me surpreendi com algumas imagens que permaneceram vivas e ressoaram em temas sobre os quais ando pensando nos últimos meses.

Trata-se da série “A história da Arte”, gravuras de André Toral, artista que trabalha no universo gráfico, entre a destreza do desenho e a narrativa da história em quadrinhos. Os desenhos apresentam cenas ordinárias de pugilistas, dançarinas ou motoboys em seus respectivos ambientes de trabalho. As cenas seriam tão ordinárias quanto o dia-a-dia de seus protagonistas, se não fosse pelas mensagens impressas abaixo do desenho, como se fossem legendas de um filme. As frases foram recuperadas da história da arte, devidamente consolidadas por seus grandes autores, dentre eles Greemberg, Matisse, Courbet e Pollock.

Algumas me chamaram especialmente a atenção, por representarem máximas lançadas há muitas décadas, ainda no furor da utopia moderna, mas que permanecem mais atuais do que nunca. Apesar do artista insistir que as frases não tem nada a ver com as imagens, há que se notar algumas afinidades e/ou provocações entre palavra e imagem, tal como na obra abaixo. “A essência da arte é o contemporâneo”. Deu vontade de juntar Agambem com Courbet!

Da série "A história da arte", gravuras de André Toral expostas na Galeria Priscila Mainieri, em São Paulo
Da série “A história da arte”, gravura de André Toral exposta na Galeria Priscila Mainieri, em São Paulo

Em outra composição, a cena de trânsito é ilustrada com a citação de Van Gogh sobre o fazer artístico, e integra a segunda série de gravuras expostas na galeria, intitulada “A juventude de Van Gogh”. “Minha meta é aprender a fazer desenhos apresentáveis e vendáveis”.

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Da série “A juventude de Van Gogh”, gravura de André Toral exposta na Galeria Priscila Mainieri, em São Paulo

Com muito sendo de humor, a banalidade das cenas diárias de uma grande cidade como São Paulo acaba contaminando as célebres frases dos grandes mestres da história da arte – tornando-as banais, sem sentido, como afirma Toral ao ser indagado sobre seus significados; assim como a “artisticidade” que reside nas máximas desses artistas impregna as cenas cotidianas representadas e as reafirma como arte – para além da gravura em si, em seu aspecto técnico -, atribuindo valor “artístico” aos próprios personagens.

Ainda sobre a 31ª Bienal…

Balanço da 31ª Bienal. Gostei do texto da Camila Molina publicado no Estadão nesta semana, e compartilhado pela Cris Tejo no diário social do fb.

Ainda parece haver muitas interrogações sobre a qualidade da edição, o que acaba por alimentar a discussão sobre a própria bienal e o “estado da arte”. De algum modo, bom sinal, trata-se de algo inesgotável, que abre espaço para trocas e põe na mesa questões pertinentes e contemporâneas que vão desde a qualidade das obras (arte ou não?), a função de um evento como este e até certo ponto o protagonismo do curador.

Do ponto de vista do valor “artístico” (não monetário apenas), pode parecer muito antiquado falar em arte ou não? Mas não dá pra deixar de questionar o lugar de muitos trabalhos apresentados como tais no evento. Uns poderiam estar em salas de cinema, outros em workshops de vídeo, outros em dinâmicas sociais para resolver conflitos, em programas de tv, e assim vai… Por outro lado, essas aparições não deixam de plantar suas sementes para o público que procura “arte”. Se a ideia é ampliar a audiência, estar ali é certamente uma estratégia para engrossar o caldo do discurso.

Nesse sentido, um dos poucos trabalhos que consegui ver (já fazendo a ressalva de que é sempre impossível conhecer todos os trabalhos de uma bienal), e que me mobilizou foi o trabalho de Halil Altindere, com happers turcos. Wonderland se mostrou forte suficiente para emocionar, uma música empolgante, que faz o corpo chacoalhar, um ritmo imagético tipo videoclip que faz o expectador acompanhar e aguardar até o fim da saga da luta social de jovens militantes que buscam defender seu território frente a venda avassaladora da terra pelo capital (para o qual não importa quem ali mora ou que cultura ali foi construída).

Wonderland, de Halil Altindere, trabalho exposto na 31ª Bienal de São Paulo

À pouca qualidade do conjunto geral de trabalhos (do ponto de vista “artístico”) se contrapõe o pano de fundo de um discurso curatorial coerente e propositivo, que parece suplantar a ausência de artisticidade das obras. Não que a tese do curador seja ruim, pelo contrário, sua fala e seu texto me induziram a conferir a exposição com grande interessante. A impressão é que a expectativa de encontrar trabalhos muito potentes, moventes, não se completou, pelo menos comigo. Resta saber se, na produção de arte contemporânea, a autossuficiência dos discursos tendem a superar a própria obra? Ou se o lugar da arte contemporânea já não é mais o da própria arte?

Bem-vindos!

Amigos e amigas da arte,

ainda não sei aonde isso vai dar… mas o fato é que cansei de ficar procurando lugar para interlocuções e consagrações. Depois de incessantes buscas por espaços para publicar alguns escritos que tenho feito desde que ingressei no doutorado na FAU-USP, no início de 2014, resolvi por hora criar meu próprio canal (inspirada no blog da Thais Rivitti).

O propósito é alimentar o blog com textos ao longo dos 4 anos de estudos, assim, vou aos poucos tentando organizar as ideias. Claro que os assuntos terão foco na pesquisa de doutorado, mas outros temas transversais, sobre arte contemporânea, também podem aparecer.

(A ver se tenho fôlego para mais um trabalho não monetarizado…rs)

Aguardo comentários, críticas e/ou indignações.

Boa leitura!

Tati Ferraz