Entre o privado e o público

As operações silenciosas de Rubens Mano tomam novamente a cidade de assalto, e desta vez ocupam o espaço do Centro Cultural São Paulo no mês de dezembro de 2014. Em imanente, o artista intervém pontualmente em uma das paredes da biblioteca do conjunto cultural, por meio da substituição de um tijolo cerâmico. Das 50 mil peças que revestem o talude paralelo à Rua Vergueiro, ao longo de 200 metros, Mano elege um tijolo original para substituir por uma peça feita pelo próprio artista; no lugar das iniciais “R B”, aparece a palavra “imanente”.

Na intervenção arqueológica, certos espaços cifrados, apagados na memória coletiva da cidade, são desvelados. Até então, as iniciais de Reynaldo de Barros (então prefeito de São Paulo quando da conclusão da obra do CCSP, em 1982) eram invisíveis aos olhos de funcionários e usuários da biblioteca. Constata-se, assim, que os domínios da vida privada, na figura do gestor municipal, demarcaram os desígnios públicos do projeto.

Detalhe da parede da biblioteca do CCSP, antes da intervenção do artista

Rubens convoca o visitante a descobrir a historicidade daquele lugar, não apenas em seu vocábulo arquitetônico, mas,principalmente, na sua esfera pública. É como se o tempo tivesse desbastado a marca celebrativa da construção (que em certa medida, funcionava como um monumento), e sua densidade históricas, tornasse imagem.

O tijolo imanente reforça a natureza do elemento construtivo em relação ao lugar, e torna visível algo que já era público. A substituição de códigos impressos nas peças ativa a consciência daquele locus social, marcando-o sutilmente, sem propriamente alterá-lo, e repõe esteticamente suas dimensões culturais e políticas.

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