Ainda sobre a 31ª Bienal…

Balanço da 31ª Bienal. Gostei do texto da Camila Molina publicado no Estadão nesta semana, e compartilhado pela Cris Tejo no diário social do fb.

Ainda parece haver muitas interrogações sobre a qualidade da edição, o que acaba por alimentar a discussão sobre a própria bienal e o “estado da arte”. De algum modo, bom sinal, trata-se de algo inesgotável, que abre espaço para trocas e põe na mesa questões pertinentes e contemporâneas que vão desde a qualidade das obras (arte ou não?), a função de um evento como este e até certo ponto o protagonismo do curador.

Do ponto de vista do valor “artístico” (não monetário apenas), pode parecer muito antiquado falar em arte ou não? Mas não dá pra deixar de questionar o lugar de muitos trabalhos apresentados como tais no evento. Uns poderiam estar em salas de cinema, outros em workshops de vídeo, outros em dinâmicas sociais para resolver conflitos, em programas de tv, e assim vai… Por outro lado, essas aparições não deixam de plantar suas sementes para o público que procura “arte”. Se a ideia é ampliar a audiência, estar ali é certamente uma estratégia para engrossar o caldo do discurso.

Nesse sentido, um dos poucos trabalhos que consegui ver (já fazendo a ressalva de que é sempre impossível conhecer todos os trabalhos de uma bienal), e que me mobilizou foi o trabalho de Halil Altindere, com happers turcos. Wonderland se mostrou forte suficiente para emocionar, uma música empolgante, que faz o corpo chacoalhar, um ritmo imagético tipo videoclip que faz o expectador acompanhar e aguardar até o fim da saga da luta social de jovens militantes que buscam defender seu território frente a venda avassaladora da terra pelo capital (para o qual não importa quem ali mora ou que cultura ali foi construída).

Wonderland, de Halil Altindere, trabalho exposto na 31ª Bienal de São Paulo

À pouca qualidade do conjunto geral de trabalhos (do ponto de vista “artístico”) se contrapõe o pano de fundo de um discurso curatorial coerente e propositivo, que parece suplantar a ausência de artisticidade das obras. Não que a tese do curador seja ruim, pelo contrário, sua fala e seu texto me induziram a conferir a exposição com grande interessante. A impressão é que a expectativa de encontrar trabalhos muito potentes, moventes, não se completou, pelo menos comigo. Resta saber se, na produção de arte contemporânea, a autossuficiência dos discursos tendem a superar a própria obra? Ou se o lugar da arte contemporânea já não é mais o da própria arte?

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